domingo, 28 de dezembro de 2014

A BONDADE REPENTINA - Pedro Grabriel




Chega o final do ano, todas as datas comemorativas que ele traz e a gentileza repentina das pessoas. Todo ano é a mesma coisa! Do nada todo mundo vira uma pessoa gentil e simpática. Foi aí que eu achei um texto do Pedro Gabriel (Autor de "Eu Me Chamo Antônio") falando sobre essa bondade repentina. E eu resolvi compartilhar com vocês aqui do blog. Espero que vocês gostem tanto quanto eu! Segue abaixo:


"Algo estranho acontece todo final de ano: as pessoas ficam simpáticas. Do nada. Corrigindo: as pessoas que não tinham o hábito de praticar gestos gentis se veem automaticamente entupidas de uma bondade jamais vista. Com direito a brilho nos olhos, sorriso de orelha a orelha e braços mais abertos que os do Cristo. Desde 1984, quando nasci, sou testemunha viva desse fenômeno. Não costuma durar muito tempo – geralmente chega na segunda quinzena de dezembro e se estica até o primeiro amanhecer de janeiro.
A sensação que eu tenho é que todo mundo se matriculou ao mesmo tempo em aulas de ioga. Intensivão de pensamentos positivos ohmmmmmm; supletivo de postura bacanuda perante o amor ao próximo ohmmmmmm; hora extra pelo futuro da Mãe Natureza ohmmmmmm… Seria lindo se não fosse perecível. Aquela mesma pessoa que ontem te xingava nas redes sociais hoje compartilha freneticamente as atualizações do seu mural. E tem mais: comenta com um coraçãozinho fofo e até dá uma curtida na foto da sua árvore de Natal recém-montada. Como se não bastasse, suspeito que ela ainda tenha mandado uma solicitação para jogar Candy Crush, mas sem querer acabei ignorando. Que maldade! (Desculpa, querida. Ainda não estou pronto para esse tipo de aproximação. O problema sou eu, não você.) Ah, como eu amo essa época!
Mas cuidado, praticante do bem diário: essas pessoas tocadas pela bondade repentina podem voltar ao normal a qualquer momento. Num mundo onde a concorrência é cada vez mais maldosa, ser bom, infelizmente, virou um diferencial. Isso sempre me incomodou. Não gostaria que a gentileza fosse um item de supermercado, posicionado estrategicamente na prateleira mais alta, com código de barras e prazo de validade – uma espécie de panetone a ser consumido imediatamente.
Que em 2015 todo mês seja dezembro." (Pedro Gabriel)
Um pouco sobre o autor:
*PEDRO GABRIEL nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio e  Segundo – Eu me chamo Antônio.

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